Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Para lá do silêncio
O dia começava na expectativa de repetir monótona e insistentemente o ritual toda a noite sonhado. Descer a rua ainda sob o manto do sono e dos sonhos, sofregamente, num misto de esperança e de nervos, como que um nó de marinheiro que lhe apertava o pescoço e revolvia as entranhas. Abria a porta do sombrio café para encontrar a luz nos olhos da diva atrás do balcão. As palavras eram escassas ou nenhumas, mas ele via na sua ausência, nos silêncios prolongados e incómodos, a certeza de que algo estava por nascer, como uma estranha calma que antecedia a tempestade. Não tinha pressa, sentia-se bem assim, o silêncio devolvia-o inequivocamente a si. E isso era muito mais do que todas as outras tempestades que vivera lhe tinham dado.