Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
25 de Abril, sempre!
Foi ontem. Não, é hoje. Será amanhã também. E depois e depois e depois, todos os dias que se seguirão se soubermos dar valor ao valor único, irrevogável, inimitável e ilimitável da liberdade. Liberdade não apenas como palavra mas como forma de vida, de pensamento, de acção, de recusa da inacção. Saibamos viver em liberdade, com liberdade, honrando a palavra e o seu ilimitado sentido.
P.s. - Um obrigado pela inspiradora tela que encima este post ao ex-jornalista desportivo Marinho Neves (hoje artista e dos bons), a quem indecente mas inocentemente roubei a inspiradora tela que encima este post.
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25 de Abril, Sempre!
Revoluções à boa moda portuguesa, de brandos costumes e belos arranjos florais. Desde miúdo que adoro o 25 de abril e o que significa, adoro ainda mais pertencer a um país que esmaga a ditadura com flores. Agora falta que a liberdade rime com solidariedade, prosperidade, com o fim da saudade que nos prende a nostalgias do antigamente. 25 de abril sempre e prá frente!
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Para quando o pós Abril?
O meu post de ontem causou algum mal estar em pessoas que admiro e respeito. Algumas sentiram que as acusei de saudosistas, algo que para mim só tem uma conotação negativa se tornado na tal saudade paralisante de que ontem falei. Referiram-me algumas pessoas nascidas antes do 25 de abril a importância da data e o que lhe devemos. Meus amigos, lá porque nasci uns meses depois desse evento único da nossa história, não pensem que não admiro o feito, que não estudei (ainda hoje estudo) as causas e as consequências dessa marcante “revolução”. Porquê “revolução” entre aspas? Porque se mudou um regime muitos dos vícios do passado persistiram e muitos erros se repetiram. Não vou sobre o tema fazer nenhuma tese de doutoramento, limito-me a constatar que em 40 anos de democracia elegemos demasiada gente sem qualidade para nos governar, deixámos que os partidos supostamente democráticos se tornassem em focos de clientelismo que instalam no governo gente tantas vezes movida pelo seu interesse em detrimento do interesse público. A revolução foi bonita, essencial para abrir as portas da liberdade, mas depois dela faltou a verdadeira revolução: a dos costumes, a de uma cultura verdadeiramente democrática, a de uma sociedade que se conduz e que evolui impulsionada pelo mérito, não pela cunha, pelo amiguismo, pelo cartão do partido. Era só isso que queria dizer.
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25 de Abril sempre, mas também p´rá frente!
Desde miúdo que adoro tudo o que rodeia o 25 de Abril. O significado, as histórias, a nostalgia, as imagens a preto e branco, o cravo, sempre o cravo, geralmente na ponta de uma espingarda ou na mão de uma criança. Hoje irrita-me ouvir os arautos da enferrujada saudade criticarem que os jovens de hoje não sabem o que foi o 25 de Abril, que desconhecem a história e os seus protagonistas, que são, ao fim e ao cabo, uns ingratos e uns seres desconhecedores das suas obrigações cívicas. Não é que os queixosos não tenham uma parte da razão, o que me irrita é perceber que por trás desta conversa está um imobilismo perigoso, um saudosismo que conduz ao beco do passado e ao receio de soluções futuras. O 25 de Abril hoje deveria significar a nossa vontade em libertarmo-nos da dependência externa para pagarmos o que devemos, devia conduzir-nos no caminho das soluções para quebrarmos esse desgraçado estado económico que é também um estado de alma. O 25 de Abril hoje deveria significar que estamos prontos para ir em busca do que realmente nos faz felizes, esquecendo os ditames de uma sociedade cinzenta que teima em olhar para trás. O 25 de Abril hoje deveria ser um grito de esperança e não um suspiro de saudade.
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Ainda assim, 25 de Abril sempre!
Praia de Faro. Os meus pés beijados pelo mar frio. O meu filho Miguel a correr para as ondas e a fugir delas, desafiando-as, procurando conhecer o perigo que elas encerram mas escondendo os seus medos. Eu a observá-lo atento mas fingindo despreocupação, deixando-o desbravar novos mundos. Gritos de excitação, “está fria, pai!”, gritos de felicidade bruta e descontrolada. Com os olhos nele, recebo uma onda que me molha os calções que não são de banho, ele ri-se louco de contentamento, no mais puro êxtase. Aquela sensação de liberdade no dia da dita cuja.
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Cabelos ao vento - 25 de abril, sempre? E foi-o realmente alguma vez?
E se a liberdade residir no direito, básico e inalienável, de soltar o cabelo mesmo quando todas as convenções e restrições o proíbem? E se a liberdade procurar apenas a felicidade simples, aquela que mais não é que o prazer daquele momento e dos momentos fugazes que se seguem? E se a liberdade cheirar a suor porquê insistir em extirpá-la da nossa pele? E se a liberdade for possuir quem desejamos, porque evitamos fazê-lo obedecendo ao peso de regras que nos esmagam até ao âmago do nosso instinto original? E se a liberdade for destronar quem nos oprime com o poder mal exercido porque não tomamos nós o poder nas nossas mãos? Falamos muito e celebramos demasiado a liberdade que dizemos ter conquistado. Mas somos realmente livres? Sabemos realmente o que é a liberdade? E se o 25 de abril foi apenas o primeiro passo para tudo o resto que falta ainda alcançar? Hum?
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Tourada (deem, por favor, a devida atenção à letra)
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Onde está a liberdade?
Onde está a liberdade que conquistámos e hoje celebramos? Amarrados pelos favores de instituições internacionais e países ricos e usurários, vergamo-nos no Parlamento, verga-se o Governo, vergam-se os funcionários públicos que só trabalham para dar resposta a exigências de um maldito memorando que ninguém sabe se trará resultados positivos. Trabalhamos para cumprir metas que muitos creem estar mais perto do abismo do que da solução, vivemos subjugados por agências que buscam lucros incessantes num monopólio de peões (países) atarantados. Onde está a liberdade de jovens que não podem deixar a casa dos pais, onde está a liberdade dos seus pais que já nem de férias para a Quarteira podem ir, onde está a liberdade dos avós desses jovens que cometeram o pecado de prolongar a esperança média de vida? Onde está a liberdade de um país que não procura as soluções dentro de si mas as mendiga pelos quatro cantos do mundo? Quando foi que morreu o 25 de Abril?
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A culpa é dos políticos - Saudades dos sonhos de Abril
A culpa é dos políticos porque traíram a sua razão de ser, porque negociaram o bem público em troca de benefícios privados, o interesse de todos pelo interesse de alguns. Porque não sabem nem se dedicam a gerir os seus Ministérios, Direcções-Gerais e Institutos, mas sim a gerir a imagem, as sondagens e o seu status quo dentro do seu espectro político. Porque não interiorizam que as despesas públicas, as despesas que autorizam e promovem são despesas do seu e do nosso dinheiro, porque desconhecem e abominam o conceito de custo-benefício, porque um escudo para eles não é um escudo. A culpa é dos políticos porque não se comportam como representantes de quem neles votou, porque não têm outra experiência profissional que não a das juventudes partidárias, dos gabinetes e outros viveiros políticos, porque nunca estiveram atrás de um balcão ou a gerir esse mesmo balcão, porque não conhecem o país e a sua realidade, o que naturalmente conduz ao desconhecimento do que é preciso mudar no tecido social e empresarial português. A culpa é dos políticos porque a sua grande luta é a manutenção no poder, a defesa dos seus apaniguados, a preparação do seu futuro na gerência das empresas que hoje beneficiam em prejuízo dos interesses do país. A culpa é nossa, ignorante rebanho de eleitores que elegemos estes políticos.
Este texto é um grito de saudade das esperanças e sonhos que nasceram com o 25 de Abril de 1974, um grito para que os políticos se envergonhem e nos devolvam os sonhos, um grito para que passemos, todos nós, a exigir melhores políticos. Para que a liberdade faça sentido.
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A propósito do dia de ontem, liberdade e tal
Revista Egoísta de Junho de 2008. Reflexões de João Lopes sobre os 50 anos de Madonna. O autor divaga, tergiversa, foge do mundo da diva pop e entra-nos pelo país adentro. Pego nas suas palavras, bebo-as, deparo-me com o sentido que a liberdade tem para João Lopes, com o seu valor intrínseco naquele preciso momento, enfim, com a sua actualidade como ele a sente em Junho de 2008. Um texto difícil. Mas é uma palavra difícil, a palavra liberdade.
"A palavra política é, hoje em dia, a mais degradada. Falo não da política como arte superior de dirimirmos as perplexidades do nosso destino colectivo, mas da "cena política", esse espaço de narcisimo decadente induzido e gerido pelas forças televisivas. A mediocridade instalada arregimentou mesmo uma palavra, "tabu", para sugerir a suspensão informativa sobre a política. É assim o nosso tempo: políticos que nunca leram Freud e falam de tabu.
Quando a palavra "tabu" se banaliza, isso quer dizer que o tecido social já não tem noção dos seus próprios interditos: somos levados a crer que "não haver interditos" é a suprema consumação da ideia da felicidade. Em Portugal, isso traduz-se num novo pensamento totalitário que define o pré-25 de Abril como o tempo em que nada aconteceu, porque tudo era interdito. A noção de liberdade passou a confundir-se com a pose do último modelo de telemóvel.
Hoje em dia, nenhum discurso político propõe nenhuma alternativa "libertadora", muito menos "libetária". Não é tanto que a liberdade seja dada como adquirida (o que, em si mesmo, já é uma forma de droga intelectual). Num mundo em que, por imposição da publicidade, a festa é ininterrupta, a liberdade é entendida como um mero "gadget", disponível no quotidiano como o novo perfume da marca x ou o automóvel y com novo conceito aerodinâmico.
Na prática (porque tudo isto pressupõe uma prática de rotinas e métodos), a ilusão instalada de uma liberdade sem lei nem sofrimento gera um sistema de visceral menosprezo pelo radicalismo potencial de qualquer desejo. Instante a instante, os cidadãos consumidores são mobilizados para os mais variados rituais de satisfação. Mais do que isso: a satisfação esgota-se sempre em algum protocolo comunista. Não há desejo. Nem desejo de desejar.