Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Parabéns!
Dá pelo nome de Vitinha - ou de alcunha - confesso a minha ignorância, o treinador adjunto do Desportivo das Aves. O Vitinha tem 8 irmãos e irmãs, mais um séquito de fiéis seguidores, que fizeram questão de ir fazer a festa ao Jamor, por entre iguarias mil, de onde se destacou um soberbo porco no espeto, sublimemente acompanhado pelo molho da assadura do mesmo. Por razões que agora não interessa aprofundar, este vosso escriba juntou-se com a trupe leonino-olivalense e passou o dia em ameno convívio, cavaqueira, faustosos comes e melhores bebes com esta fantástica gente da Vila das Aves. Fugiu-se aos sofrimentos recentes da nação leonina e honrou-se o espírito da Taça, tão bem abençoado pelo estádio e as matas do Jamor.
O resultado, tremendamente merecido pela equipa do Desportivo das Aves, foi o que menos interessou. Do lado da equipa leonina tenho apenas a destacar a honradez profissional, o respeito por todos os amantes do futebol e a coragem para entrar em campo e dar o melhor, nesta triste conjuntura, sobretudo tendo em conta que a esmagadora maioria dos nossos leões terão certamente vivido a pior semana da sua vida profissional e, quiçá, pessoal. As lágrimas do Rui Patrício, o nosso Rui, deviam obrigar os dirigentes, os adeptos, a comunicação social, todo o mundo do futebol a repensar tudo. Caso não o entendam ou não estejam para isso acabaremos por perder o futebol em toda a sua beleza e genuinidade. O que restará não sei, mas garanto-vos que se nada for feito não mais as matas do Jamor se encherão de são convívio, amizade, de fair-play e desportivismo. Parabéns boa gente das Aves, parabéns leões!
p.s. - Não menos importante, ficam aqui os parabéns ao grande Guedes (neste caso não o ponta de lança do Aves) pela organização e pela capacidade de mobilização desta malta toda. Anda Guedes!
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Macau 2017 - never forget!
Das coisas boas que levamos na vida e que tendemos tantas vezes a desvalorizar, derivado do avançar da idade, da seriedade, das responsabilidades e do correspondente grau de sisudez, são as noitadas e historietas épicas escondidas (ou esquecidas) por trás das mesmas. Estas imagens de uma noite épica vivida há coisa de dois meses em Hong Kong foram antecedidas por um fantástico jantar num restaurante grego, passando depois por um dos mais afamados bares de sake do mundo (foto 2), onde borbulhavam e fumegavam cockatils indizíveis produzidos a partir desse néctar dos Deuses nascido do arroz, prosseguindo numa discoteca com os melhores gins do universo 30 andares acima do solo (foto de cima) e, bom, a partir daí tudo começou a ser um pouco mais nebuloso. A imagem da mistela que fecha este post relembra-me a necessidade imperiosa de um bom amigo açoriano devorar algo com mais de 1000 calorias em menos de 10 minutos no Hard Rock Café do pedaço, tudo isto enquanto um elemento de características mais investigativas explorava as discotecas das redondezas, sem perder mais do que 5 minutos para devorar as tais 1000 calorias. Para terminar, nada como uma caminhada de regresso ao hotel a poucas horas de raiar o sol, sob aquela rejuvenescedora e libertadora chuva molha tolos que cruelmente nos relembrou as agruras matinais que nos esperavam. Obrigado irmãos, é disto que a vida é feita!
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Macau, 18 anos depois
Macau? Creio que poderei resumir a coisa ao resultado das provas de magníficos vinhos proporcionadas pelo nosso irmão do Oriente: “Epá, foi preciso regressar 18 anos depois a Macau para provar o vinho da minha vida”! Meia hora depois calo-me porque o vinho que se segue é tão bom ou melhor. Foi assim Macau. Rever os cheiros, o bulício sem fim, os recantos que o imparável progresso não apagou, beber o novo que amanhã será novamente objecto da minha nostalgia. Rever pessoas que nos marcaram, conhecer novas gentes, emocionar-nos com a toponímia bilingue das ruas, a língua lusitana imortal do outro lado do mundo, a calçada portuguesa bem cuidada e admirada. No topo de tudo, a amizade que a tudo sobrevive e continuamente se reforça, único combustível que nos permitiu dormir a correr para nada perder e tudo sorver, cravar com ferro em brasa no coração a terra, o vinho e as gentes. Até já irmãos, até já Macau!
p.s. – As fotos são da minha autoria, as dos vinhos provados surgirão em breve.
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Parabéns Bandeira, até já Ou Mun!
Cerca de 18 anos passados regresso à boa e velha Macau, Ou Mun segundo os locais, terra que tornou os adolescentes lusitanos que aí viveram, nos quais tenho o privilégio de me incluir, personagens fascinantes e misteriosos, os últimos heróis na terra. Amizades inquebrantáveis, amores inesquecíveis, experiências difíceis de igualar, tudo ali era novo e desafiador, tudo era barro para moldar homens em corpos de rapazes. Volto para matar saudades do cheiro inconfundível daquela terra que todos os anos conquista mais um pedaço ao mar, volto para abraçar o nosso amigo irmão, grande Mestre Bandeira que hoje faz anos e que está feliz pois amanhã nos terá nos seus braços, aos seus irmãos! Até já, Bandas!
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Leitão à moda de xutariiiii!!!
No passado fim de semana teve lugar mais um encontro da Confraria Etnográfica dos Olivais (bonum vinum laetificat cor hominis), realizado na mui nobre aldeia bairradina de Samel. Os afazeres foram os costumeiros, marcados por bons vinhos, iguarias de comer e chorar por mais (o leitão, ai o leitão que se derretia na boca), suecadas, vólei ao pé, piscina, matraquilhos, conversas leves e debates acalorados sobre o estado da Nação. A certa altura o tema mudou para aquilo que realmente interessa: sim, as memórias da vitória lusitana no europeu do transacto ano, vídeos e mais vídeos sobre a repetição da patada do Éder, da festa, da reação de todas as televisões europeias no momento do golo (destaque para a Grécia com o já famoso “Éder xutariiiiiiiiiii!!!”), enfim, quase melhor que ser feliz é recordar com gosto, saudade e aquelas lagriminhas marotas no canto do olho esses momentos de felicidade. A grande pergunta fica: como conseguimos contornar tantas improbabilidades e ganhar? Muitas teses, mil hipóteses levantadas e eu cá continuo com a minha: o nosso Engenheiro foi iluminado por algo que nem ele sabe explicar, talvez só a sua inabalável fé em Deus e naqueles 23 homens explique. Colocar em campo, no momento certo, nos jogos certos, nos minutos certos, Renato Sanches, Quaresma, Adrien, José Fonte. Dizer as palavras certas que transformaram a cabeça e a crença dos rapazes e de toda uma nação que os apoiava. E bolas, Fernando, como guardaste todo o Europeu o Éder até àqueles minutinhos finais, sabias tão bem que ele ia explodir contra tudo e contra todos. Só isso explica que nos segundos antes do Éder entrar em campo, isto se tenha passado, como tão bem descreveste: “Estava a explicar-lhe o que ele tinha de fazer e ele não ouvia nada. Só dizia para eu ficar descansado que ia marcar”. Xutariiiiiii, gggoooooooolllooooooooooooo!!!
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Parabéns rapaziada
Aos meus amigos que reúnem na mesma pessoa tão boas qualidades e tão infeliz preferência clubística, desejo uma noite sem incidentes de maior, sem gritarias desnecessárias (há gente em casa a querer pôr o sono ou a leitura em dia), com moderação no consumo de bebidas que aviltam o homem e o animal, que respeitem as indicações das autoridades policiais, que não misturem gasolina com álcool, que se acordarem quando o sol for alto não o vejam por uma janela adornada por grades. Parabéns rapaziada, para o ano é que é!
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Pelas margens e encostas do Douro global
Subir o Douro, visitar quintas, matar saudades da pureza e hospitalidade genuínas das gentes do norte, comer bem e beber melhor e, acima de tudo, celebrar a amizade e alargar os horizontes à filharada. O Douro está fabuloso, as gentes cada vez melhores, as quintas magníficas, e o prazer de comer e beber como se estivéssemos em casa atingiu o zénite no restaurante de um chef austríaco que assentou arraiais em Tabuaço. No restaurante Tábua d'aço o chef Thomas Egger inventa magnífica comida, brinda-nos com a sua história e as suas histórias e envolve-nos no abraço que o dono de um café lá perto tão bem define: "O Thomas tem tudo o que têm as boas pessoas". A globalização não é isto mas devia ser isto: ser bom e fazer o bem sem olhar a quem em qualquer ponto da terra.
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Pausa para respirar
Aqui a tasca encerra uns dias por motivo de passeio e convívio de amigalhaços e famílias, esperando trazer boas novidades sobre o Douro vinhateiro. Passeiem muito, namorem mais, bebam bons vinhos, tudo com a classe e despreocupação que parece acompanhar esta moça tão bem imortalizada pelo Helmut Newton. Have fun!
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Da amizade e do vinho
Ontem foi dia de rever amigos de sempre, de convívio, de orgia gastronómico-vínica com um dos maiores sabedores de vinho do país. A desconfiança que já tinha de que os vinhos portugueses estão hoje por hoje num patamar de qualidade fantástico foi mais do que confirmada por provas inesquecíveis de néctares lusitanos. Apesar da paixão pelo que é nosso, tão único e brilhante, houve ainda espaço para provar alguns néctares dos finalistas derrotados do Euro 2016 e até para beber uma bela pomada proveniente da China. Os pratos que acompanharam o repasto proporcionaram ligações harmoniosas e inesquecíveis, mas o fio condutor de toda esta experiência única, que dá sentido a tudo e que tornará este repasto eterno nas nossas memórias é a amizade sem limites, imune a distâncias longínquas e a tudo o mais. Obrigado amigo B., volta sempre que cá estaremos para te acompanhar nestes penosos trabalhos que carregas sobre os ombros!
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Catarse póstuma
Não se viam há mais de um ano e aquele encontro, entre viagens, na esplanada do aeroporto de Lisboa, duas horas entre os voos de ambos, seria o momento em que celebrariam verdadeiramente a maior alegria desportiva das suas vidas. Desde que se lembravam, à excepção deste euro tinham visto todos os europeus e mundiais de futebol juntos, apaixonados, irmanados de esperança no início e de sonhos frustrados no fim. A vida dera-lhes agora a distância sem lhes tirar a amizade eterna e aquela paixão comum pela selecção de todos nós.
“- Epá, estive à beira de um AVC, eu sei que estive. O remate ao poste do Gignac, mais os 10 minutos até ao apito final depois do golo do Éder rebentaram comigo. Não ia aguentando a pressão, estive mais de uma hora catatónico a olhar para a televisão, eles a festejarem enquanto as lágrimas me corriam pela cara em silêncio, com o sorriso mais parvo e incrédulo do mundo.
- Ahahah, só tu, pá! Orgulho sem fim! A cena do Ronaldo a pedir para jogar todo estropiado, chorar, sair, ir para o banco e pôr aquela malta toda a entranhar no corpo a loucura e a vontade de ganhar dele, esta equipa de luta ganhar a toda uma nação como a França, a uma equipa mais forte no papel, é o maior feito desportivo de sempre!
- Nem a fuga para a vitória com o Stallone, porra, que argumento genial, nem o Tarantino!
- Sabes o que acho que foi isto. Acho que a realidade superou a ficção, nem nos nossos mais ambiciosos sonhos!
- Talvez, talvez. Em França, pá, na cara e na casa deles, e eles a magoarem o nosso menino. O gajo a querer, como quando no passado os gajos jogavam de braços ao peito, e ele a não poder, caramba, o nosso menino! Histórias que só os velhos contam mas nunca vimos, o nosso menino a ir chorar para a cabine!
- O gajo a saltar na área já todo entrevado, maluco do carassas, a dar tudo sem ter já nada para dar!
- Quando vi o Éder rematar, que sonho!
- Como me dizia hoje um velho amigo, ex-jogador, é golo com a mão de Belzebu, ele tirou aquele remate das caldeiras do inferno!
- O Patrício possuído, o Nani poucos falam mas fez um jogo do camandro!
- Mas para mim João Mário! Grande Euro e grande joga! E na defesa o Pepe, monstruoso, monstruoso!
- E o puto Guerreiro, que categoria, defesa esquerdo da selecção para mais 10 anos!
- Sim! Gostei dele! Certinho apesar de ser franzino!
- Certinho? Mas tu estás a bater mal? O gajo a atacar é uma máquina, parte-os todos!”
E a catarse continuou, imperial após imperial, a emoção a soltar-se em golfadas como se estivesse ainda presa depois da torrente descontrolada de comoções ininterruptas que pareciam, até àquele reencontro, não terem ainda encontrado a saída de emergência para explodir naquele fogo-de-artifício de glórias impensáveis. Obrigado rapazes, obrigado Engenheiro Fernando, obrigado Portugal!