Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Para lá do silêncio
O dia começava na expectativa de repetir monótona e insistentemente o ritual toda a noite sonhado. Descer a rua ainda sob o manto do sono e dos sonhos, sofregamente, num misto de esperança e de nervos, como que um nó de marinheiro que lhe apertava o pescoço e revolvia as entranhas. Abria a porta do sombrio café para encontrar a luz nos olhos da diva atrás do balcão. As palavras eram escassas ou nenhumas, mas ele via na sua ausência, nos silêncios prolongados e incómodos, a certeza de que algo estava por nascer, como uma estranha calma que antecedia a tempestade. Não tinha pressa, sentia-se bem assim, o silêncio devolvia-o inequivocamente a si. E isso era muito mais do que todas as outras tempestades que vivera lhe tinham dado.
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O trigo, o joio e um bom punhado de grãos de café
Há dias assim. O cansaço acumula-se, a energia soçobra perante a montanha de tarefas inacabadas, envoltas na desconfiança de que andamos a fazer muitas coisinhas mas nada de realmente importante. Não conseguimos separar o trigo do joio porque não nos damos, não nos dão, ou não fica bem tirar algum tempo para nos focarmos nas prioridades, no que vai ter impacto, no que tem potencial para mudar algo para melhor. Saia um café duplo!
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O eterno retorno
Amava despertar nos suaves aromas do café pela manhã, simples e a ferver. Depois disso, a perfeição coincidia com o som surdo das palavras a ecoar dentro de si. Se depois desse momento só seu ele a possuísse como só eles sabiam, o dia, o mês, a vida podia fechar para balanço. Não havia nada a desejar para lá disso. Só o eterno retorno.
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HOT!
Só tu me fazes falta pela manhã. O teu calor, o teu corpo fumegante, o beijo molhado que me invade todos os poros, a sensação de que a vida só começa depois de te ter. Sim, sabes que falo de ti, do meu vício de todas as manhãs, de toda a vida. Até à última gota. Quente, a ferver, até ao limite indefinível em que por um milionésimo de segundo não me queimas para todo o sempre a língua e a alma.
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Some like it hot
O café da e pela manhã não é apenas e unicamente um ritual. É o que determina o que será o resto do nosso dia, do sucesso ou infortúnio das horas que se seguirão. Quente, desgraçadamente pouco quente, queimado, no ponto, é a sua adequação ou inadaptação às nossas necessidades que inconscientemente determinará toda a corrente de acontecimentos, decisões, omissões e ilusões. Precisamos do mimo certo pela manhã, do toque com a intensidade perfeita naquele ponto escondido nas nossas meninges, nas sinapses que nos conduzem por entre o emaranhado do que de nós desconhecemos e faz de nós o que somos sem saber que o somos.
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Café da manhã - E o pecado mora ao lado
Há gente para quem o kick do café é o impulso para iniciar o dia com maquiavélicas maquinações de malfeitorias para as horas que se seguem. Há quem veja o nascer do sol não como uma bênção da natureza mas como o levantar da cancela para iniciar hostilidades, do género “temei humanos, aí vou eu, à conquista da glória, contra tudo e contra todos!”. Negócios fechados, engates adjudicados, espezinhamentos do colega do lado ultimados, o sol nasceu para que a sua sombra pudesse vingar ainda com maior impacto. Ou então tudo isto mais não é que uma megalomania pessimista provocada por um café tristemente tirado...
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Café da manhã: Ophelie Guillermand, sem olhar à dieta
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Café da manhã - a importância de 1%
Arrisco-me a banalizar o tema do café aqui por esta humilde tasca. No entanto, todavia, contudo (já valeu a pena ter um blog para poder escrever esta sequência idiota de palavras) conviria que quem bebe café pudesse perceber que aqueles 30 segundos, o tempo despendido no nobre acto de bebericar o negro líquido demasiado quente, pode constituir o único momento do dia em que, embalados pelo shot de adrenalina da cafeína, nos olhamos ao espelho do dia que vai começar e, mesmo que por um segundo, mesmo que por uma fracção minúscula do tempo em que parimos esta nossa existência, podemos ter um relance de quem verdadeiramente somos. Em 99% das vezes que somos bafejados por esse relâmpago de clarividência não teremos a sabedoria ou a capacidade para apreender o significado dessa revelação. O que interessa é o 1%, o que realmente interessa é estarmos preparados para abrir os olhos no momento preciso em que a revelação se faz. Mantenham-se atentos, vai valer a pena.
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A cidade onde o café melhor sabe
Não conheço o livro, não conheço a Marina, mas conheço bem o prazer de beber cafés pelos cafés de Lisboa. Esplanadas, estabelecimentos clássicos, tascas, botequins de bairro, quiosques sob a sombra de frondosas árvores, o sabor único dos grãos nem doces nem amargos, o cheiro que nos acorda antes sequer de as papilas se deixarem acordar pelo estímulo da cafeína. Há milhares de coisas mal neste país, mas começar o dia com um café num qualquer café desta cidade única dá-nos força para derrubar, desde logo, umas centenas de entraves e tornar o dia em algo prometedor. Não sou apologista que o café se beba em casa, no conforto artificial de uma qualquer máquina Nespresso. Mas, se tiver que ser, e nunca esquecer que o que tem que ser tem muita força, que o façam por uma boa razão, grão a grão…