Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
O regresso
O regresso à vida dos restantes 11 meses é, nestes primeiros dias, o regresso à incompreensão das opções que tomamos quanto ao que fazemos com as nossas vidas. Lamentamos o abandono dos prazeres em detrimento de dias recheados de obrigações, deadlines, pressão em cima de pressão, correr para não deixar o prazo escapar, correr para os putos não chegarem atrasados à escola, correr para satisfazer quem, o quê, porquê? Mais tarde, quando depois de estranhar se começa a entranhar, percebemos que não temos alternativa, que o caminho é este, que o dolce fare niente nunca nos dará aquilo que nos permitirá o dolce fare niente. Se nos deixarmos iluminar pela luz que existe em nós, mas que teimamos em ocultar sob o stress das correrias, perceberemos amanhã (um dia, daqui a um ano, demasiado tarde?) que podemos correr com um sorriso nos lábios, espalhando magia e sorrindo da azáfama dos que não se deixaram ainda iluminar. Com calma, minhas amigas e meus amigos, vejam lá isso.
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Para o sul!
Quando Jean-Paul Goude elaborou este cenário idílico, com recurso à ideia de calor abrasador emanado das formas e contornos de Laetitia Casta, sabia ser essencial introduzir um sinal de arrefecimento, que as gentes e os homens em particular não reagem bem aos verões excessivamente tórridos, sob pena de sofrerem alucinações dantescas ou de se entregarem aos efeitos sedativos das bebidas geladas ou das mulheres demasiadamente glaciares. Esta conversa toda só para dizer que parto hoje para terras mais quentes, mais a sul, onde espero apenas arrefecer as ideias, abrandar o ritmo, deixar que o sol lentamente me conduza à sensação de não mais aguentar o seu abraço ardente até que, vencido e convencido, me entregue mole e feliz nos braços salvíficos do mar azul e retemperador. Boas férias, minhas queridas amigas e diletos amigos. Carpe Diem!
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O regresso
Há verões que não voltam, há sensações que se perdem no tempo obscuro das nossas ténues recordações. As escassas semanas que nos concedemos da vida que sonhamos são a amostra da nossa impotência face ao peso da vida que nos verga nos restantes 340 dias do ano. Não haverá soluções e escassas serão as artes mágicas que atenuem a sensação de impotência que comporta o regresso das férias. Talvez vivermos melhor o dia a dia, encararmos as chatices laborais, familiares e escolares como um desafio à nossa capacidade criativa, colocarmos um pouco de magia em tudo aquilo que parece aborrecido e repetitivo, enfrentarmos os rituais diários com um leve sorriso trocista, descobrir-lhes a graça e pincelar-lhes o cinzentismo com o arco-íris que nos ficou dos dias de mar e de sol. Porque não, simplesmente, tirar uns minutos pela manhã para escrever umas parvoíces ou para refletir sobre tudo e sobre nada? Experimentem.
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Modo de verão: cérebro desligado/voyeur
Sejamos sinceros, curtos e grossos. Ninguém no seu perfeito juízo quer queimar as pestanas em pleno verão, refletir sobre as causas das coisas ou sofrer com a decadência da nação. O estado natural das meninges atingidas pelo torpor do astro rei é o de voyeur, toda a prioridade do corpo e da mente incide na mera contemplação. A poucos dias das merecidas férias o Bolas entrega-se nos braços do dolce fare niente, arma-se com a câmara a tiracolo e assume a posição de voyeur. As palavras passarão a escassear, as imagens de ninfas ao sol salpicadas pelo mar tomarão as rédeas desta tasca com o cérebro amolecido pelo calor. Quem alinha disfrute, quem não gosta meta férias do blog. Começo pela jovem modelo Rafaella Consentino, jovem prendada e dada aos prazeres de verão, que não deixa mentir todos aqueles que defendem que uma imagem vale mais que mil palavras.
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Disfrutar - não ceder às maléficas e anestesiantes garras do maralhal
Perdermo-nos no ruído dos outros é esquecermo-nos de nós. Será vantajoso, se é esse o esquecimento que buscamos. Podemos, contudo, optar por nos perdermos em nós. Numa praia deserta ou semi-habitada. No silêncio mais perfeito que só a submersão no nosso mar nos devolve. Aquela esplanada repleta de inspiração visual e morta de sons humanos. Rir sem razão e sem eco, só porque sim. O silêncio aconchegante da música. Como única companhia o sonho nas asas do desejo.
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It´s the end of the world as we know it
A sensação de fim do mundo que regressa na mala de férias é mesmo isso, uma sensação. Teimamos em lutar contra o inelutável, estraçalhamos na nossa cabeça factos consumados até consumirmos o nosso corpo e espírito em dores e sofrimentos indizíveis. Um dia abriremos os olhos à luz e perceberemos que a constante revolta contra as certezas da vida são nada mais nada menos do que um ténue e preocupante sinal de loucura. Não daquela loucura boa, mas da asfixiante loucura, repleta de angústias e de medos. Se tem que ser assim porquê sofrer com isso? Se é preto porque nos contorcemos no irreprimível desejo do branco? Se chove porque insistimos em chorar pela ausência do sol?
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A rotina nas nossas mãos
Ia escrever sobre rotinas. A rotina laboral que dá lugar à rotina das férias, sendo que inevitavelmente esta acaba por ceder o seu rotineiro pedestal à labuta que alimenta essa possibilidade de mudar de rotinas. Mas isso já não é assim, se estivermos atentos e valorizarmos as pequenas e valiosas mudanças. Já não é uma noite recheada noite de copos e de corpos que me faz lamber os beiços de umas férias à grande. Gosto agora de acordar cedo e de andar, a pé ou de bicicleta, embrenhado na natureza ou no cheiro a mar. O meu filho já não me pede a mão para o levar ao mar, mas implora que o liberte nessa batalha de David contra Golias, ele contra as ondas, o meu medo contra a liberdade dele. No regresso ao trabalho também tudo muda lentamente, embora tudo pareça igual. A forma como o sinto e o enfrento, as soluções que busco e por vezes encontro para os problemas outrora insolúveis. A rotina está em nós, basta querermos acabar com ela, dentro e fora de nós.
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Enjoy the silence
Há a hipótese de no período estival eu cumprir o sonho de só colocar aqui imagens. Quase sempre, quando as palavras não me fizerem comichão. No words needed.
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O mar, sempre o mar
Summer Cruising in the South Seas, por Wallis Mackay, 1874
E quase sem se dar por ela chegam as férias. Três semanas de mar e sol, muita brincadeira e trabalheira com crianças esfaimadas de mar, mar e mar, muita vontade e pouca certeza de conseguir pôr para trás das costas o trabalho, o tanto que se fez e o mais que fica por fazer. Nadar, mergulhar, nadar, mergulhar, o brilho da água salgada mesclada pelo sol, o calor que me faz voltar ao mar, voltar sempre, como se tivesse cinco anos e nunca cessasse de ir em busca do primeiro mergulho. Não sei com que frequência virei aqui ao blog, não sei se me vai fazer falta ou nem por isso. Sei que voltarei sempre a ele, como voltarei sempre ao mar. Sejam felizes, até já.
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Always the sun
Chega de bola e regressemos ao Verão. Epá, espera aí, onde está o sol, o mar e os corpos esculturais? É verdade, é uma triste realidade que assola uma parcela deserdada da humanidade. Diz que há quem passe o Verão longe do mar, quem não busque a espuma dos oceanos, quem despreze a sensação única da areia molhada. Há quem diga que é uma bênção existirem gostos para tudo, até porque em caso contrário a nossa costa tombaria, com o peso de tanta procura, para o fundo do mar. Concordo, meus amigos, o prazer do Verão pode estar no fumo de um cigarro que nos aquece por entre dois golos de cerveja choca. Os corpos negligenciados e pouco dados a músculos luzidios e tezes bronzeadas são também filhos de Deus e têm direito à vida, mesmo que escondidos do sol e alérgicos ao astro rei e ao sal do oceano. Quantos Verões não haverá por aí envergonhados, orgulhosamente encabulados e sequiosos de vulgaridade, de calma excessiva, alheios à agitação que dizem ser a mãe de todos os Verões? Uma cerveja choca sabe pior que uma cintilante caipirinha sob a inclemência do sol à beira-mar? A vida com menos brilho e com a pele translúcida tem uma cotação inferior no mercado da felicidade? Quantos sorrisos amarelos se escondem espraiados em toalhas garridas sobre a areia? Quantos pensamentos mórbidos se enterram em cada mergulho refrescante? Este é o tipo de reflexão de quem já se estendeu demasiadas horas ao sol ou, por outro lado, de quem sofre de gravíssima síndrome de ausência de horas ininterruptas exposto à canícula da grande bola de fogo.