Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
A rede, a sua omnipresença e a sua ausência
Se há prova cabal de que as redes sociais podem, se mal e desmedidamente utilizadas, constituir um perigo efetivo para a civilização, Bruno de Carvalho e Donald Trump são o espelho dessa indesmentível e lamentável asserção. Entre o imediatismo da raiva e a imparável pulsão dos impulsos poluentes que em segundos lhes passa dos fracos cérebros para os ágeis dedos e daí para o mundo através das redes que nos asfixiam e subjugam, medeiam escassos e macabros segundos. Não há conselheiros e assessores de imprensa que consigam domar a volúpia do exercício desbragado e sem rédeas do poder. A rede que nos une é aquela que não nos protegerá quando cairmos do sétimo andar do poder e nos estatelarmos, sós e desprotegidos, na calçada fria e inclemente de um mundo sem tempo para pensar, respirar e domar a voracidade infalível do ódio. Vejam lá isso.
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86-60-86
Uma amiga linda e felizmente afastada das medidas supostamente perfeitas publicou esta foto por território facebookiano, acompanhada do bem lusitano “Pimbas! Vai buscar!”. Outro amigo, mais dado a outras artes circenses comentou “Pois claro. Cheirava bem? Isso nunca ninguém diz!”. Há momentos em que se pode amar o facebook.
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TIC TAC
Parece que te estou a ver, Bruno. Refastelado na poltrona de boa e cara pele, verde, bem verde, verde guerra (what else?), a rodopiar o gelo afogado no cristal do copo bem preenchido com um refinado whisky de 15 anos, preparado para a guerra, com o coração aos pulos e os dedos nervosos, ansiosos pelas teclas que te esperam, para glorificares os teus rapazes ou para lhes espetares a faca por entre as costelas já de si doridas, enraivecido pela dor e pela desilusão, qual rapazola de 8 anos a quem não deixaram marcar o penalty no campo lá da escola. Os jogadores procuram estar descontraídos antes do jogo, vê-se o Coates sorrir de cara aberta, contrastando com um Griezmann sisudo e aparentemente concentradíssimo. Relaxa homem, parece que vais para o matadouro!
O jogo começa. Tic tac tic tac. Vinte e dois segundos. Vinte e dois segundos!!! Tempo suficiente para que o Seba, embevecido por estar a jogar num dos grandes palcos europeus, julgar que tem a categoria do Umtiti e fazer um passe transbordante de classe, a sair a jogar, infelizmente para os pés errados. Mas o nosso Coates é teso, e ainda assim tenta corrigir o erro atacando a bola passada pelo Diego Costa para o Koke. Ups, afinal foi cuequinha. O pobre Rui, lá sai supersónico a tentar encurtar o ângulo, mas o mal estava feito. Vinte e dois segundos! Este é para queimar, pensas tu para os teus botões, o culpado disto é ele, o Seba, o sacana!
O jogo prossegue (tic tac tic tac), o Sporting parece querer reagir, mais posse de bola e pormenores de classe. É então que o Gélson se isola e…falha um golo feito! Viras o terceiro copo de whisky e vociferas, “este gajo já só pensa em milhões, é para queimar”! O fim da primeira parte aproxima-se (tic tac tic tac), mas a coisa não acaba antes de mais uma fífia do Mathieu a isolar o velho Antoine que, recordado do milagre do nosso Rui na final do europeu, atira com toda a raiva e colocação para mal da tua vida, dos teus nervos, da tua falta de controlo, soltas mais um “pelintra deste velho francês mal parido e pior arruivado vai já de vela”!
Segunda parte (tic tac tic tac), meia dúzia de copos virados, já só reténs as defesas do Rui e um falhanço de bradar aos céus do Montero nos últimos segundos do jogo, “mais um gajo para correr, um que nunca devia ter voltado e que já não tem pernas para isto!”. Apito final, agarras-te ao laptop e soltas todo o fel naquela janelinha azul e brilhante, esqueceste os amigos, os assessores, os conselheiros, é aquele o teu muro das lamentações, é ali, batendo violentamente nas teclas que finalmente encontras a paz. Esbofeteias os teus, viras-lhes as costas, sacodes a água do capote. TIC TAC TIC TAC! És uma bomba relógio sempre prestes a explodir, Bruno. Vai, segue o teu caminho, o Sporting já não precisa de ti, fazes-lhe mal, Bruno. Creio que ontem todos os que amamos e sentimos o Sporting percebemos finalmente isso. Ou então estamos todos loucos e cegos.
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Run baby, run (but please, leave your smartphone home)
Uma amiga, certamente inspirada pelo azul do mar, partilhou, no infinito azul do universo facebookiano, esta pequena pérola sobre a ambiguidade da natureza humana. Há reflexões que não se devem sujeitar a profundas análises, são elas próprias um exaustivo tratado sobre tudo o que há para analisar em nós e na nossa brilhante e absurda duplicidade. Disfrutem.
“Deturpando ligeiramente as palavras de Obélix: Estes humanos são loucos. Compramos CDs com o som das ondas para ouvir em casa, e vamos para a praia ouvir kizomba, pop e fado. Temos no ambiente de trabalho imagens de praias paradisíacas, e estamos nas praias paradisíacas a olhar para o monitor do tablet ou iPhone. Ansiamos por mais e mais "conexões" e não nos conectamos a nada nem ninguém.
Décadas se passaram e continuamos a cantar “Só estou bem onde não estou” e “I can´t get no satisfaction”. Podes mudar a playlist, sabes? (Mas, por favor, não a leves para a praia).
P.S. – Não fossemos nós seres contraditórios, seria estranho eu estar a escrever tudo isto no meu smartphone…em frente ao mar.”
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A febre amarela
Esta história do Estado estabelecer contratos de associação com estabelecimentos de ensino privado começa a chatear-me. A inocente brincadeira (provocatória, é certo) que se vê na imagem acima e que descontraidamente coloquei no FB animou as hostes e despoletou algumas reacções mais encaloradas. Como é evidente, a malta mais de esquerda ataca os privados que criticam a intervenção do Estado na economia mas que se pelam para serem tocados pelo seu toque de Midas, isto, claro, enquanto a malta mais inclinada para a linha lateral direita do nosso espectro político discorre acaloradamente sobre a “sangria comunista a vingar”. Aqueles que defendem os estudos que demonstram que custa menos ao Estado um aluno financiado no privado do que um pago diretamente pelo estado na escola pública, esquecem, convenientemente, que isto não é assim tão branco e preto, tão pão pão queijo queijo, que a fria realidade dos números oculta demasiadas negociatas feitas neste sector e, sobretudo, que a falta de igualdade no acesso a essas supostas escolas de elite subsidiadas com o dinheiro de todos mas a quem nem todos acedem em pé de igualdade é uma realidade inegável. Não há preto nem branco nesta história, mas há muita gente a contribuir para que o cinzento impere.
De qualquer forma, era bom que as pessoas percebessem que o facebook é bom para lançar umas larachas sobre bola ou umas provocações pouco reflectidas sobre as fixações do momento, só para relaxar as meninges. Procurar discutir seriamente assuntos sérios nessa feira de vaidades e parvoíces mais não é que deturpar a dignidade da sã discussão. E então, quem ganha, esquerda ou direita, Estado ou privado? Vou ali ler mais uns 1000 artigos sobre o tema, consultar mais uns números despejados pela Pordata, o Ministério da Educação, o Tribunal de Contas e outros que tais sobre as nossas costas e logo vos digo qualquer coisa. Entretanto, vou pagando a escola privada dos meus filhos pela qual optei nesta fase da vida, pois não tive a sorte de ser bafejado pela febre amarela…
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Da filosofia por praias tailandesas até ao deserto bem lusitano
Não sei se é de mim, mas tive a sorte e o privilégio de ter beneficiado, ao longo da minha carreira estudantil, dos conhecimentos de fantásticos professores* (não todos, mas gosto de lembrar as pessoas que interessam), com particular destaque para alguns professores de educação física. Não sei porquê, mas sempre me surpreendeu que pessoas tão sábias da vida e de outras artes tenham optado pelo ensino das coisas do corpo e não da mente (isto, sem prejuízo, claro está, de bem saber que mente sã só existe em corpo são). Bom, pensando melhor, essa terá sido provavelmente uma opção sábia - ter como desculpa o corpo para nos cultivar a mente.Um desses professores das artes físicas, fazendo jus à sabedoria que conheci há mais de vinte anos atrás, escreveu hoje no facebook um brilhante e certeiro texto sobre a, hum, o, bem, nem sei como lhe chamar...Fico-me por aqui, deliciem-se.
“«Filosoficamente todo o agora é passado. Do tempo temos a memória do passado, que é todo o tempo que passa e a expectativa do futuro - esse horizonte que se afasta de nós à medida que ilusoriamente nos aproximamos dele. Verdadeiramente, a única dimensão do tempo que possuimos é o presente! Dos que se mantêm vivos no presente, não significa que se manterão vivos no futuro ».” - Filósofo popular de uma praia de Phuket.
A mesma criatura, corrigindo, referiu que as pessoas devem estar atentas ao que ele diz. E ao não dizer “as pessoas manter-se-ão”, o Sr Ministro admite que o seu verbo induz os seus interlocutores em conclusões contrárias à sua acção. Normalmente isto seria considerado má fé, coisa que se dispensa em tão alto magistrado da Nação, mas, alevá!
Disse ainda o mesmo magistrado, no que foi entendido como a assunção de responsabilidades pelo descalabro do inicio deste ano lectivo:”Agora voltarei para a minha Universidade de Lisboa”. À cautela, sentei-me à espera! E ainda bem que o fiz, porque o tempo e o modo da asserção ministerial tinha uma pendência semântica e ainda estou à espera do cumprimento da promessa!
Atentemos na especulação sobre o tempo da autoria do Filosofo Budista da praia de Phuket: o advérbio agora é uma intenção comida pelo tempo e a forma verbal voltarei só pode ser uma expectativa. Por consequência, sendo a formulação de um desejo só se poderá concretizar no futuro.
O nosso primeiro, quiçá armado da filosofia oriental, foi veleiro no esclarecimento : “O Sr. Ministro da Educação há-de um dia regressar à sua Universidade de Lisboa. Não será agora!”
Pois claro, o professor universitário Crato ao dizer que voltaria para a Universidade, nunca quis dizer que não fica no ministério da Educação. Neste governo eles passam o tempo a clarificar-se uns aos outros sobre o que uns e outros dizem. Até parece que não sabemos ouvir!
«Já que esta gente não se entende, temos que fazer um esforço para percebê-los», costuma dizer alguém de quem esqueci o nome.”
*Nota de extrema relevância – toda a minha carreira de estudante foi passada na escola e na universidade pública.
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Intimi(ssi)dades facebookianas
Querem saber algo ou tudo sobre alguém que não conhecem bem e sobre quem gostariam de saber um pouco mais? É pesquisarem no Facebook, esse livro a céu aberto (muitas vezes, esse esgoto a céu aberto) que, geralmente, a malta não se lembra que meio mundo pode ver o que por lá escrevem e, mesmo que se lembrasse, não saberia como aprimorar as definições de privacidade. Mas o FB serve para muito mais do que isso. Há por lá gente com uma incrível piada que, apesar de não conhecermos, passamos a seguir porque é amigo de um nosso amigo e nos viciámos nas suas publicações. É o meu caso, que sigo o amigo de um amigo que tem o hábito de abanar os alicerces da nossa seriedade com as suas desventuras do dia-a-dia. Ademais, o rapaz tem amigos e amigas espirituosos, como se percebe pelo diálogo que se seguiu a esta simples publicação:
“Os anúncios da Intimissimi fazem-me mal aos nervos.”
- “Não são maus, não...já vi pior e a pagar.”
- “Mas de alguma maneira sinto que estão a gozar comigo.”
- “É como um puto etíope ver um anúncio da McDonalds.”
- “Mas não são badalhocos...Está uma tipa a esfregar-se na cama com um soutien sem costuras e tu não dizes «ah sua rameira de higiene rude». Dizes: «Para com isso, estás a aleijar-me o coração. Toma uma aliança»."
- “Sinto exactamente o mesmo. Um suplício... Prefiro que me atirem imagens pornográficas para cima a essa insatisfação mais refinada que conseguem gerar enquanto nos roubam a auto-estima.”
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Nem só os ricos têm facebook, Senhor
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O Manuel e o grito de Munch
Por terras facebookianas sigo um homem que não conheço, Manuel Forjaz de seu nome (http://forjaz.com/). O Manuel insiste diariamente em escrever pérolas sobre os mais variados temas. O Manuel está doente e insiste também em combater a doença (sim, aquela maldita doença, o cancro) com um entusiasmo, uma raiva e um realismo que abanam o espírito mais macambúzio. Diz-me um amigo que também o segue que isto da morte andar a rondar deve ajudar a escrever sem meias medidas, a ir ao cerne das questões. Eu cá não sei nada disso, mas desconfio que mesmo são como um pero este homem escrevia e pensava fora da caixa. Deixo aqui uma das mais recentes pérolas do Manuel:
"Gelada no semáforo de peões da Rua Politécnica, o espectro de uma mulher, camiseiro rosa e calças pretas; não esperava a mudança de sinal, esperava tudo, a vida que não chegava, uma luz; olhos, nariz, testa, cabelos tudo caído, um desarranjo quase requiem; nunca vi, a não ser talvez no sentido do medo e desespero, no grito de Munch, uma tão plástica representação da tristeza; num segundo suspira quase até rebentar e deixa os ombros cair quase até ao chão....não podia ter ido mais fundo...devia ter parado a mota; devia ter-lhe ido dar um abraço! perdi uma oportunidade de fazer a diferença no dia de alguém que precisava...
Somos assim a maioria; guardamos para nós o que temos para dar de borla; pressionados, condicionados desde pequenos a estar longe, a estar só, a não ser ridículos.
Está quase tudo para re-escrever no modo como crescemos e nos tornamos estas pessoas que seguem em frente!"
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A culpa
"A culpa é do pólen dos pinheiros
Dos juízes, padres e mineiros
Dos turistas que vagueiam nas ruas
Das 'strippers' que nunca se põem nuas
Da encefalopatia espongiforme bovina
Do Júlio de Matos, do João e da Catarina.
A culpa é dos frangos que têm HN1
E dos pobres que já não têm nenhum.
A culpa é das prostitutas que não pagam impostos
Que deviam ser pagos também pelos mortos.
A culpa é dos reformados e desempregados
Cambada de malandros feios, excomungados,
A culpa é dos que têm uma vida sã
E da ociosa Eva que comeu a maçã.
A culpa é do Eusébio, que já não joga a bola,
E daqueles que não batem bem da tola.
A culpa é dos putos da casa Pia
Que mentem de noite e de dia.
A culpa é dos traidores que emigram
E dos patriotas que ficam e mendigam.
A culpa é do Partido Social Democrata
E de todos aqueles que usam gravata.
A culpa é do BE, do CDS, do PS e do PCP
E dos que não querem o TGV.
A culpa até pode ser do urso que hiberna
Mas não será nunca de quem governa."
Por autor anónimo, desesperadamente vociferando por terras facebookianas