Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
See Naples and die
Nápoles. Máfia, Maradona, crime, um estranho fascínio pelo lado negro da natureza humana. Sei que não morrerei sem visitar aquelas ruas míticas onde se adorou sem limite o maior dos maiores, Diego Armando Maradona. Mas Nápoles será muito mais do que essa louca paixão, vejo-o nos olhos dos personagens reais, de carne e osso, com cheiro intenso a gente que ilustra este post. O fotógrafo Sam Gregg alimenta-me o fascínio com esta coletânea de fotos intitulada “See Naples and Die” (https://www.lensculture.com/articles/sam-gregg-see-naples-and-die). O feio pode ser contraditoriamente belo, o medo uma irresistível fonte de atração, a violência mais não ser do que uma desajeitada e fogosa forma de amar. Um dia perder-me-ei nas tuas ruas, é só o que sei.
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We love to eat them, por Harvey Weir (#perolasdoinstagram)
“*no men were harmed in this photoshoot. We love men and we love to eat them.”
É tão isto. Estamos tão nas vossas mãos. Mesmo que pensemos que estamos assim, entregues e submissos apenas porque o queremos e permitimos, não é essa a realidade. Estamos neste estado de vegetais incapazes de quebrar o feitiço porque o verdadeiro poder está em vós. Na vossa superior racionalidade, no incomparável poder de sedução, na ponta da vossa língua, na volúpia de algodão doce desses lábios de salgado veneno, na fornalha que passeiam negligentemente entre as coxas. Estamos tão fodidos.
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A lenta morte (#perolasdoinstagram)
Fotografia por Daria Belikova
De que nos serve a beleza quando jaz nua e fria? O que fazer com a sedução, a tesão, quando os corpos já não se querem, quando o orgasmo se limita ao cumprimento da função biológica de um qualquer cão selvagem? Mergulhar no poço do prazer animal não será entregar a alma ao diabo do desejo cego e gélido? Não fará de nós mais máquinas do que humanos, mecanismos que cumprem funções de forma enérgica e rotineira? De que nos serve a beleza quando a mesma jaz no regaço do fim do amor? Não será esse o lento caminho para a morte de nós?
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O primeiro beijo
Fotografia por Stephen Shames, "Bike Jump", da série "Outside the Dream Child Poverty in America, 1985"
Terá havido um momento no tempo, no desenvolvimento da sociedade e das relações humanas, em que se deu o clique. Alguém, uma qualquer besta quadrada e insensível, decidiu espalhar a boa nova de que a ordem social aconselhava seriedade e tino, padrões lineares e facilmente repetíveis que matassem à nascença as mais ínfimas possibilidades de maluqueira, como que uma nuvem carregadinha de abúlicos enfados imbuída da nobre missão de silenciar gargalhadas, de sufocar desbragadas gargantas.
Há quem se admire com a existência de sorrisos e esgares de felicidade por entre bairros de tijolos envelhecidos, nas faces de crianças sujas e timidamente alimentadas. Há quem estranhe o mistério de os ricos e afamados demasiadas vezes meterem uma bala na cornatura, como se a joie de vivre fosse proporcional ao volume do livro de cheques. Como se chutar uma remendada bola no meio de um lamaçal, rodeados de amigos, não inspirasse mais felicidade do que uma ceia inimitável num qualquer chateau desses paraísos exclusivos tão invejados. Como se o primeiro beijo e a queca de estreia, mal amanhada mas inesquecível, não dessem uma abada à última visita à casa de mademoiselles de pele lustrosa e seios aperfeiçoados, daquelas que levam os olhos da cara por meia hora de luxúria artificial. A puta da vida devia ser tão simples. Vejam lá isso.
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Jones, Grace Jones
Grace Jones, no Estúdio 54, fotografada por Adrian Boot (1981)
“I was born into a very religious family where everything was about setting the right example for the community and having to obey orders blindly. I felt that everyone was growing up in the world, except me. This is probably one of the reasons why I had such a rebellious attitude towards any form of authority.”
“Women and men grow up with both sexes. Our mothers and fathers mean a lot to us, so it's just a question of finding a balance between their influences. I've found mine. And it tends to be more on the male side. I mean male side the way we understand it in the West.”
“Hiding, secrets, and not being able to be yourself is one of the worst things ever for a person. It gives you low self-esteem. You never get to reach that peak in your life. You should always be able to be yourself and be proud of yourself.”
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O Verão é...
…uma janela para o mar. Nada mais, só o mar, o horizonte infinito do azul abraço, a vida como um sonho, o medo de te perder devorado pelo inigualável marulhar das ondas.
The window on the sea - Ferdinando Scianna
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Francisco Gómez - Bicycle in the Atrium of a Church in Paris, 1962.
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Da série "O olhar do amor" - 19.º
Fotografia por Alex Webb/Rebecca Norris Webb, em Nuevo Laredo, Mexico, 1996, ano em que o casal de fotógrafos celebrou o 19º aniversário do seu casamento.
Provavelmente há imagens que espelham melhor o amor do que outras. Há também a possibilidade da imagem que julgamos melhor mostrar o amor apenas revelar o nosso entendimento sobre esse amor, o que é para nós o amor. É possível associar o amor a uma infinidade de atos, estados de espírito, manifestações: carinho, sensualidade, alegria, conforto, paixão, protecção, olhares esgazeados de tesão, olhos marejados pela água mansa de um manso amor. Inicia-se aqui a série “O Olhar do amor”. Porque amor precisa-se.
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Para o sul!
Quando Jean-Paul Goude elaborou este cenário idílico, com recurso à ideia de calor abrasador emanado das formas e contornos de Laetitia Casta, sabia ser essencial introduzir um sinal de arrefecimento, que as gentes e os homens em particular não reagem bem aos verões excessivamente tórridos, sob pena de sofrerem alucinações dantescas ou de se entregarem aos efeitos sedativos das bebidas geladas ou das mulheres demasiadamente glaciares. Esta conversa toda só para dizer que parto hoje para terras mais quentes, mais a sul, onde espero apenas arrefecer as ideias, abrandar o ritmo, deixar que o sol lentamente me conduza à sensação de não mais aguentar o seu abraço ardente até que, vencido e convencido, me entregue mole e feliz nos braços salvíficos do mar azul e retemperador. Boas férias, minhas queridas amigas e diletos amigos. Carpe Diem!
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E depois do adeus
Fotografia por Ferdinando Scianna
Para onde vai o amor depois de morrer?
Com foi possível deixar de a amar?
Era feita de céu e de mar
tinha em si todos os cheiros da vida.
Da sua voz nasciam os sons da terra
embalados nos sonhos dos seres.
A sua morada era a das deusas
a origem do amor o seu ventre
era ela a mãe de todas as razões que conhecia para existir.
O que há, senão a morte, depois do amor fenecer?