Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
As saudades do mundial voltaram
Há uma frase que gosto muito e utilizo amiúde (direitos de autor do amigo Francisco L.): "Sempre ao lado do povo, nunca no meio dele". Esta foto sugere-me a mesma frase, mas de pernas para o ar: "Sempre no meio do povo, nunca ao lado dele". Só o mundial para me levar ao mais fundo dos dilemas constitucionais de uma nação com excesso de egos futebolísticos nacionais e uma galopante inflação de excelentes jogadores estrangeiros.
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As saudades do mundial já apertam - Loco Abreu
"Às vezes vou a correr para cabecear num canto e chego a gritar «Vem aí o tsunami da área!» Mijam-se a rir, até os adversários."
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Parar para pensar
Retrospectiva, repensar, analisar o que se passou, o que se sentiu, o que ficou. Porque é que centenas de milhões vibraram desta forma com uns pontapés numa bola, com o esforço e a arte dos seus, daqueles que envergam as suas cores. Os guerreiros de hoje, aqueles que nos defendem a pátria, que abraçam no momento da vitória as cores da bandeira que nos disseram que teríamos de amar. É da natureza humana esta esfomeada necessidade de um ideal comum, a união em torno de um objectivo agregador. Poderemos interrogar-nos porque não vibramos assim quando o desemprego baixa, quando o défice soçobra à nossa esfusiante produtividade, quando os nossos governantes melhoram o acesso à saúde, os níveis de literacia, as despesas fixas com o monstro estatal. Uma bola lá dentro, é isso que nos faz vibrar. Os 20% de desemprego em Espanha não impediram centenas de milhares de saírem à rua, loucos, realizados, agraciados pela maior alegria. Como se a bola lá dentro, no jogo final, fosse o desiderato último de toda uma nação. Há que pensar nisto.
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Van Bommel, o fantasma do futebol
Termino aqui esta série sobre o Van Bommel com uma explicação para a mesma. Isto foi apenas um exorcizar do medo que senti de ver o Van Bommel levantar a taça de campeão do mundo. Um dos maiores filhos da mãe do futebol mundial, violento, desonesto, feio, porco e mau. O símbolo do que não deve ser o futebol, um tipo que passou uma carreira a querer eliminar os Xavis e Iniestas do nosso contentamento. A simpática senhora da foto de cima é certamente vítima de violência doméstica. Ou isso ou cumpre uma promessa de esmagador e desesperante significado.
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Como foi possível, meu Deus? A blaugrana nãããoooo!!!
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Ah, ok, está quase tudo explicado
Outro título para este post que ilustraria bem a besta do Van Bommel: "Se jogar uma final, não beba".
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O ouro
Contra tudo e contra todos, contra o árbitro, contornando o destino que parecia desenhar-se, a Espanha é campeã do mundo. Excelentes jogadores e um futebol de filigrana contra uma uma equipa de guerreiros e caceteiros (Van Bommel e De Jong, meu Deus, que animais) e contra um Robben fenomenal mas sem a estrelinha. Robben conduz a bola em velocidade como se a sua vida estivesse dependente de chegar a algum lado mais rápido que todos os outros. Felizmente, Iniesta conseguiu contornar a injustiça que o destino por vezes comporta, não dando a Robben um prémio que a sua equipa não merecia.
A Espanha não fez um grande jogo porque o adversário só pensou em não a deixar jogar, um pouco ao jeito do que fizeram Portugal e outras equipas neste mundial. Mas Xavi, esse esteta dos passes e do desenho de trajectórias impossíveis mereceu-o, o incansável Iniesta também, Fabregas, o melhor suplente do mundial igualmente, Villa, hoje uma nulidade, mereceu-o por todos os outros jogos, Puyol e Sérgio Ramos, os expoentes máximos da raça espanhola, e, mais que todos, Casillas, o grande capitão, o homem das defesas impossíveis, o homem que ama tanto a sua pátria que não aguentou as lágrimas até ao fim do jogo. Mereceu-o Vicente Del Bosque, um bom homem, e todos os outros. Parabéns Espanha, parabéns África, as saudades deste mundial já começam a apertar!
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A vitória ficará bem entregue a qualquer uma delas
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O bronze
Belíssimo jogo entre a Alemanha e o Uruguai em busca do último lugar do pódio. Golos, óptimos golos, um Uruguai que dá prazer ver, uma mescla original de muita garra e trabalho duro (Fucile, Maxi pereira, os dois trincos) com classe para dar e vender (Suarez, Cavani e, como expoente máximo, Diego Forlan). Este último, aos 31 anos, elevou-se à categoria dos grandes jogadores de mundiais. O golo de hoje, uma réplica melhorada do golo de Jordão de 1984, é para mim o melhor do campeonato. Melhor do que o de Van Bronckhorst nas meias finais, porque Forlan sabia perfeitamente o que queria fazer e onde queria meter aquela bola, o holandês apenas acreditou num milagre que acabou por lhe ser concedido.
A Manschaft, uma equipa com um previsível brilhante futuro que deixa certamente as restantes selecções preocupadas, demonstrou desta vez mais consistência do que o habitual ritmo de jogo alucinante. O final aproxima-se e vamos percebendo que isto nos vai fazer falta, muita falta. A vibração, a luta, a expectativa, os golos, a polémica, os ritmos africanos, a alegria dos adeptos e das nações, as mulheres bonitas nas bancadas, até da merda das vuvuzelas vamos ter saudades de dizer mal. Sobretudo, era bom que alguma semente de desenvolvimento desse frutos numa África que definha, que a noção de harmonia entre povos/tribos/etnias passasse a significar algo mais para os africanos com o que se viu este mês. A bola, esse ópio do povo, pode ser uma boa droga. Se consumida com moderação, claro está.