Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
Madrid
Abstraindo dos estereótipos dos turistas irritantes, viciados no instagranismo e nas demais parvoeiras digitais que os impedem de mergulhar na vida dos sítios para onde viajam, Madrid é uma cidade fascinante. Esse fascínio reside em boa parte nas ruelas, bares, tabernas, comedoiros e afins que pintalgam a cidade como cogumelos, no ritual de conversar, petiscar e bebericar enquanto o sol aquece a vontade de nada mais fazer que não seja isso mesmo: falar, comer e beber. As hordas de emigrantes e sem abrigo vão sendo controlados e enxotados por polícias musculados para que os ritmos e rituais dos residentes e dos turistas não sejam prejudicados, Madrid sobrevive à força destruidora do turismo de massas e da globalização muito à custa do tinto fresco, da sidra e das cañas que nos embalam em sonhos de uma vida para sempre nas esplanadas das suas ruelas e becos.
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Coelhinhos e coelhinhas
Ainda me lembro de quando a época Pascal rimava com carestia e penitência, em que se abdicava dos prazeres da carne e se privilegiava refeições em que o peixe mandava na mesa (o que estavam a pensar, seus pecadores?) e se reflectia sobre os pecados cometidos, preparando a alma para a temida presença junto do prior no confessionário. Sim, eram assim os tempos da adolescência e juventude pascal para um jovem nos finais dos anos 80/inícios de 90 que consumia catequese, que não vivia alienado por tablets e por séries televisivas, e para quem o Santo Graal da existência era sinónimo de trepar árvores com os amigos e perseguir uma bola e canelas alheias até ao sol se deitar. Hoje a Páscoa são escapadinhas à neve, viagens para terras onde o sol ofuscou as penitências e reflexões pascais, apenas mais uma pausa na rotina do casa-trabalho / trabalho-casa. Valha-nos a boa e eterna Kate Moss, para nos lembrar que a Páscoa não são só coelhinhos de chocolate mas também coelhinhas de boas carnes e suculentos ossinhos. Fiquemo-nos com a primeira parte do post para refletirmos sobre o que andamos a fazer com as nossas tradições, passando logo a seguir para a descompressão KateMossiana que nos ajuda a aliviar o peso de em permanência buscarmos o sentido da vida.
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Votos de Boa Páscoa, meus e da Kate Moss
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Humor negro em dose dupla no rescaldo das epifanias pascais
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Boa Páscoa e melhor vida, gente boa
Abalo uns dias para o sul em busca de novos ventos, de um ar mais leve, de uma mudança na rotina da canalha. Os miúdos, mais ainda do que nós, anseiam por alterações no seu quotidiano. O curioso é que as crianças adoram rotinas, coisa que muitos pais não entendem, o que não invalida que também adorem intercalá-las com outras mini-rotinas que criam nas férias, nas pausas no turbilhão. Nós, adultos, já só pedimos uma pausa na burrocracia, na inclemente sofreguidão dos papéis que entram e que saem, tantas vezes sem nada de novo ou de bom trazermos com isso ao mundo, à nação, às nossas vidinhas em particular. Vou tentar encontrar umas pausas na voracidade com que as crianças bebem cada segundo de modo a conseguir que o cérebro entre, uns minutos que seja, em standby, em modo dolce fare niente. Provavelmente virei aqui, porque também este cantinho serve para fugir ao cinzento dos papéis e afins. Se cá não aparecer, é porque o cérebro desligou mesmo, mas não vos preocupais, o regresso, mais dia menos dia, está garantido. Uma boa Páscoa a todos, que possamos dar um passo nesta época, por mais pequeno que seja, no caminho que conduz a uma vida mais feliz.
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Blog temporariamente encerrado para reflexão Pascal
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Uma Santa e achocolatada Páscoa para todos nós!
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Uma Páscoa feliz!
Um dia feliz para todos vocês! Não pelo facto de ser Páscoa, mas porque provavelmente estarão relaxados, entregues à modorra das reuniões familiares, da ingestão de açucar sem problemas de consciência de maior. Os dias festivos devem ser louvados não por serem dias festivos mas por serem dias felizes, ou pelo menos menos maus que os habituais dias que nos vão consumindo a eternidade. Eu comecei por jogar futebol ao sol com o meu coelhinho de infinitas pilhas, passei por um episódio de Seinfeld que me abriu o apetite para o borrego, para o tintol Herdade de Portocarro, para os coelhinhos de chocolate do petiz (para ele não abusar, claro), ao que se segue mais uma ronda de família. Uma boa Páscoa, e cuidado com os ovos fora de prazo, que eles andam aí.
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Pérolas da blogosfera - Semana Santa
Pensei em escrever algo sobre a Páscoa, os ovos de chocolate, a parvoíce dos coelhinhos de chocolate. Algo sarcástico. Porquê não sei bem, será desta sensação de sofrida religiosidade que nos torna ainda mais cinzentos? Ou talvez seja para me vingar das forçadas confissões da infância no silêncio da madeira do confessionário escuro e triste, talvez uma desforra do interminável bocejo do padre que escutara demasiadas confissões de miúdos traquinas, desses irrelevantes pecadores. Pecado é querer que as crianças não pequem, que sejam anjinhos de altar, que não berrem nem rasguem a roupa na gravilha lá da rua. Depois, encontrei este texto da Ana Cássia Rebelo e decidi endeusá-lo e ficar bem caladinho. Não vá o Senhor padre zangar-se. Boa Páscoa.
"Um grupo de mulheres reza o terço numa salinha de paredes envidraçadas. A ladainha sai-lhes da boca, monocórdica, espalha-se pela nave da igreja, abafa o ruído que vem de fora. Estão naquilo muito tempo. Largam ave-marias, pais-nossos e jaculatórias, em catadupa, mistério a mistério, percorrem a vida de cristo, do nascimento sem pecado à agonia de um corpo nu crucificado. Pouco antes da salve-rainha, quando estão prestes a terminar, as suas vozes ganham certo alento. Será fé ou simplesmente alívio? Por fim, lançam-se num cântico desafinado que me chega como uma massa indistinta, sem palavras ou significado. Emudece-lhes então a voz. Escuta-se o roçagar das saias, o som seco dos missais a fechar, o chiar das solas de borracha dos sapatos ortopédicos no chão encerado. Saem da salinha do terço, pequenas, apressadas, consoladas. As mulheres que rezam o terço são velhas. O corpo perdeu há muito a doçura das formas femininas, não têm anca, nem mamas, nem ventre. O corpo tornou-se numa carapaça baça, jaspeada, e os membros, levemente arqueados, truncados, lembram pinças e tenazes. Quando falam soltam bolhas de água de mar. Atravessam a igreja com os seus passos pequenos de crustáceo. Sentam-se nos bancos que ficam junto do altar. Esperam a missa das seis."