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O som do silêncio

Segunda-feira, 02.12.19

 

night birds por Yoshiharu Tsuge.jpg

Night birds, arte por por Yoshiharu Tsuge

 

O consolo da noite reside em impercetíveis sensações

sonhos sem memórias de existência

o som dos pássaros cor de breu

silêncio quente como o gelo.

 

No reverso do espelho a luz do dia

demasiada nitidez

a sufocante ausência de silêncio.

 

A noite devolve o canto inaudível dos pássaros

melodia dos sonhos

o doce conforto da inexistência.

 

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publicado por bolaseletras às 14:54

Gente feita de gente

Sexta-feira, 22.03.19

 

Elizabeth Taylor resting during the filming of Sud

Elizabeth Taylor a descansar, durante as filmagens de "Suddenly, Last Summer" (Espanha, 1959)

 

Precisa-se de gente que abra, gentilmente, alas para quem vem da esquerda ou da direita,

gente que não corra

que não salive quando vê o amarelo beijar o calor assassino do vermelho

homens e mulheres que respirem a serenidade de nuvens imperfeitas

de suspiros de algodão em forma de bolas de sabão

nuvens que não sabem se chovem ou se serenamente flutuam

indecisas entre imitar redondas baleias ou tesouros do tamanho do sonho das crianças.

Procura-se gente que não pergunte por razões

almas despidas de porquês

senhoras que não pintem os lábios ou tisnem os olhos,

mulheres com pestanas que se deixem levar p´lo vento sem toques nem retoques.

Anseia-se por homens com simpáticas e sorridentes barrigas

machos sem machezas nem mulherezas

apenas homens que riem alto quando ninguém dorme

e que ressonam quando a noite cai.

Buscam-se crianças de joelhos esfolados

com cheiro de riso e de relva molhada

tristes e felizes petizes de lágrimas embrulhadas em gargalhadas tolas

redondos de tanto chutar bolas

esqueléticos de tanto correr,

como se o mundo e a felicidade de o descobrir fossem uma estrada sem fim.

Precisa-se de gente feita de gente.

 

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publicado por bolaseletras às 17:29

Os nomes

Sexta-feira, 22.03.19

2.jpg

 

Give your daughters difficult names. give your daughters names that command the full use of tongue. my name makes you want to tell me the truth. my name doesn’t allow me to trust anyone that cannot pronounce it right.” — Warsan Shire

 

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publicado por bolaseletras às 10:59

E depois do adeus

Sexta-feira, 13.04.18

  

5.jpg

 Fotografia por Ferdinando Scianna

 

Para onde vai o amor depois de morrer?

Com foi possível deixar de a amar?

 

Era feita de céu e de mar

tinha em si todos os cheiros da vida.

Da sua voz nasciam os sons da terra

embalados nos sonhos dos seres.

A sua morada era a das deusas

a origem do amor o seu ventre

era ela a mãe de todas as razões que conhecia para existir.

 

O que há, senão a morte, depois do amor fenecer?

 

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publicado por bolaseletras às 14:25

O manto de ferro

Quinta-feira, 05.04.18

Durban, South Africa 1959.jpg

Durban, África do Sul, 1959, por Ed Vand Der Elsken

 

O ódio tem a cor do medo

o medo transpira o suor dos cobardes

dos que se cobrem das vestes do poder

sob mantos engomados de vergonha e soberba.

 

O pecado toca-lhes a vida

traça-lhes o destino.

 

Nunca entenderão porque na derradeira hora,

perante o precipício sem fim,

só eles e o seu medo habitam a solidão do penhasco

já despidos de ódio e soberba

sós

entregues

para sempre perdidos no medo

de viver a vida sem o manto de ferro do ódio.

   

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publicado por bolaseletras às 15:02

O assobio

Quinta-feira, 29.03.18

 

  

Berlim, 1957.jpg

Berlim, 1957, por René Burri

 

Pouco mais que sombras pouco menos que gente

seres que levitam na escassez de peso e de existência

batimentos inertes em dúvidas

submersas na certeza da sua trémula opacidade.

 

O assobio que se escuta nas escadas cinzento metálico

não é o de uma alegria quente

expectável

de quem está vivo

de quem tem a possibilidade de amar

é apenas o vento frio que confronta as brechas envelhecidas

do ferro e das gentes

na esperança vã de que alguém recorde como é assobiar.

 

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publicado por bolaseletras às 09:51

O papagaio de asas quebradas

Quarta-feira, 28.03.18

  

1.jpg

 Fotografia de René Burri

 

Nada há mais triste do que a infância que se esfuma

o adulto que se molda em oposição ao vento

contra a corrente do rio que corre livre e abraçado a sonhos crus.

 

O papagaio voa agora solitário

não pelo impulso generoso da criança

mas soprado pela indiferença do abandono,

longe da ingenuidade perdida

saudoso dos dedos quentes e felizes que jamais voltará a sentir.

 

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publicado por bolaseletras às 15:38

Conselhos para 2018

Sexta-feira, 29.12.17

MAIS POESIA 

poesia.jpg

 

  DEIXAR O SOL ENTRAR 

Deixar o sol entrar.jpg

 

  NÃO DAR PÉROLAS A PORCOS

pérolas a porcos.jpg

 

 PRIVILEGIAR A LEITURA

privilegiar a leitura.jpg

 

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publicado por bolaseletras às 15:43

No palco dos sonhos

Sexta-feira, 17.02.17

  

z_teatro.jpg

 

- Esta noite sonhei que estávamos numa peça de teatro. Fugimos da realidade e no palco, expostos a tudo e a todos, vivemos finalmente o sonho sempre adiado.

- Sonha meu querido. É para isso que serve a arte.

- Não minha sereia, a arte serve para criarmos o sonho perfeito. É a vida que o realiza, em todas as suas imperfeições.

- És um poeta.

- Diante de ti sou muito mais do que sou.

 

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publicado por bolaseletras às 12:13

"Caminharemos de olhos deslumbrados", por Ary dos Santos

Sexta-feira, 10.02.17

  

z_ary1.jpg

 

Caminharemos de olhos deslumbrados

E braços estendidos

E nos lábios incertos levaremos

O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

 

Onde estivermos, há-de estar o vento

Cortado de perfumes e gemidos.

Onde vivermos, há-de ser o templo

Dos nossos jovens dentes devorando

Os frutos proibidos.

 

No ritual do verão descobriremos

O segredo dos deuses interditos

E marcados na testa exaltaremos

Estátuas de heróis castrados e malditos.

 

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!

Ó deus das virgens loucas

Dos amantes com cio,

Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,

Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

 

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,

Fustiga-nos os membros como um látego doido,

Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,

Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

 

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,

Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,

Atapeta de flores a estrada que seguimos

E carrega de aromas a brisa que nos toca.

 

Nus e ensanguentados dançaremos a glória

Dos nossos esponsais eternos com o estio

E coroados de apupos teremos a vitória

De nos rirmos do mundo num leito vazio.

 

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publicado por bolaseletras às 11:01





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