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Madrid

Sábado, 15.04.17

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Abstraindo dos estereótipos dos turistas irritantes, viciados no instagranismo e nas demais parvoeiras digitais que os impedem de mergulhar na vida dos sítios para onde viajam, Madrid é uma cidade fascinante. Esse fascínio reside em boa parte nas ruelas, bares, tabernas, comedoiros e afins que pintalgam a cidade como cogumelos, no ritual de conversar, petiscar e bebericar enquanto o sol aquece a vontade de nada mais fazer que não seja isso mesmo: falar, comer e beber. As hordas de emigrantes e sem abrigo vão sendo controlados e enxotados por polícias musculados para que os ritmos e rituais dos residentes e dos turistas não sejam prejudicados, Madrid sobrevive à força destruidora do turismo de massas e da globalização muito à custa do tinto fresco, da sidra e das cañas que nos embalam em sonhos de uma vida para sempre nas esplanadas das suas ruelas e becos.

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publicado por bolaseletras às 13:09

A cidade onde o café melhor sabe

Terça-feira, 22.11.16

  

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Não conheço o livro, não conheço a Marina, mas conheço bem o prazer de beber cafés pelos cafés de Lisboa. Esplanadas, estabelecimentos clássicos, tascas, botequins de bairro, quiosques sob a sombra de frondosas árvores, o sabor único dos grãos nem doces nem amargos, o cheiro que nos acorda antes sequer de as papilas se deixarem acordar pelo estímulo da cafeína. Há milhares de coisas mal neste país, mas começar o dia com um café num qualquer café desta cidade única dá-nos força para derrubar, desde logo, umas centenas de entraves e tornar o dia em algo prometedor. Não sou apologista que o café se beba em casa, no conforto artificial de uma qualquer máquina Nespresso. Mas, se tiver que ser, e nunca esquecer que o que tem que ser tem muita força, que o façam por uma boa razão, grão a grão…

 

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publicado por bolaseletras às 10:05

O fruto que Adão e Eva sempre desejaram

Quarta-feira, 25.11.15

  

maçã_Natalia Vodianova by Bruce Weber for Pirell

 

Porque não consegues largar o fruto proibido?”, perguntavam-lhe insistentemente as amigas. Porque se não saboreasse a vida naquilo que ela tem de mais suculento, se não sentisse as entranhas da terra vibrar debaixo dela nada valeria a pena, respondia com um olhar distraído, como quem acredita natural e simplesmente, com toda a convicção do coração, no que acabou de dizer. Mas ele não é teu, tem outra vida, tu és para ele uma distracção, insistiam os anjos de frágeis asas. Ela sorria, agora mais abertamente, e retorquia enquanto saboreava o calor do sol que lhe aquecia a face: “Não sei se há casais felizardos que tenham concretizado o milagre de encontrar a metade que os completa, mas sei que, mesmo em part-time, encontrei a minha. Se ele a encontrou ou não só ele o poderá dizer ou saber. Mas como vocês bem sabem, os homens mais facilmente se preocupam com a bola que entrou ou deixou de entrar do que sobre os dilemas existenciais do amor e do desamor, pelo que prefiro ir saboreando e não me preocupar muito com isso”. Os anjos abanaram a cabeça, desconsolados. Resta saber se esse desconsolo se devia à perdição daquela alma ou ao amargo travo que vive na boca de quem não saboreia a vida.

 

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publicado por bolaseletras às 14:53

Enquanto as folhas caem

Quinta-feira, 12.11.15

  

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Surge sempre aquele dia em que acordamos sem nada para dizer, sem arquivos preparados para alimentar a máquina devoradora que é o Bolas e Letras, sem forças para enfrentarmos o trânsito, as exigências dos clientes, as razões desrazoáveis de cidadãos ávidos de Justiça e eficiente serviço público. Há tanto para dizer e demasiada falta de tempo para o escrever. Há também a preguiça das manhãs de Outono que se espreguiça por entre as folhas que caiem no chão húmido, levemente beijado por tímidos raios de sol. E há ainda razões para não se sair da cama, deixar as folhas cair em silêncio do outro lado das vidraças, abandonar temporariamente o blog, o trabalho, aquela reunião definitiva e imperdível, aconchegarmo-nos ainda mais no casulo de lençóis de flanela e pesadas mantas. Vocês sabem do que é que eu estou a falar.

 

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publicado por bolaseletras às 10:15

Café da manhã - Be afraid, be very afraid

Terça-feira, 29.09.15

 

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publicado por bolaseletras às 08:12

Fumo

Terça-feira, 10.12.13

 

Nada fica. Talvez permaneçam os cheiros, a memória passageira de sons confusos, gemidos de dor que se confunde com prazer, o som de quem não quer revelar a tormenta que vai no corpo. Os minutos que valeria a pena guardar esfumam-se da memória, queimam-se nos escassos segundos que demora a cinza a cair na colcha.

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publicado por bolaseletras às 18:37

Prazeres obrigatórios em tempos de baú vazio

Quinta-feira, 20.06.13

 

 

Será que existe o conceito de prazeres obrigatórios? Poderá um prazer ter carácter compulsivo, não será a obrigação de algo fazer contrária à pureza do que deveria significar o prazer, sentir prazer, experimentar o seu êxtase? E porquê isto agora? Simples, porque o prazer que me dá escrever este blog tornou-se também numa obrigação quase diária, digamos que o meu prazer me escravizou ao prazer de todos os dias publicar algo aqui na minha tasca, tornando este exercício de liberdade num acto obrigatório. Mais uma vez confirma-se que nada é branco ou preto, tudo é cinzento, tudo se intersecta, até as mais afastadas linhas de fronteira. Esta reflexão imediata é importante e revela à saciedade que chegou um daqueles dias em que não há tempo para se pensar sobre o que se escreve e se vai escrevendo ao sabor da pena. O tempo para ir alimentando o arquivo para futuras publicações é tão pouco que tenho o baú vazio. Resta-me encontrar tempo para encher o baú com o meu prazer, tenho que me obrigar a isso. Mas não pensem que estou sozinho. Há homens que adoram sexo e que se queixam que as namoradas/mulheres só pensam nisso, tornando o acto de amor e prazer quase uma obrigação diária (também deverá haver mulheres que se queixam do mesmo, mas as dúvidas de que adorem tanto o sexo como os homens estão ainda por esclarecer). Há jogadores de futebol que adoram a sua profissão, mas esta, por inerência, torna o acto de chutar uma bola muitas vezes uma obrigação. Sem nada no baú e já tantas palavras gastas. Num exercício de libertário prazer cumpri a “obrigação” diária, not bad.

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publicado por bolaseletras às 18:07

Deixar de fumar também pode matar

Terça-feira, 13.11.12

 

 

Aqueles momentos que se seguem ao turbilhão de sensações, a indecisão de abraçar o parceiro da loucura ou de procurar refúgio num cigarro solitário. A busca da compreensão, a fuga da confusão. Parar e estabilizar, deixar o ritmo cardíaco abraçar a normalidade, devorar golfadas de fumo para lançar no corpo o nevoeiro do mistério que não se quebra, só se adensa. Cada momento que se segue é especial e único porque é sempre a primeira e última vez. Nada permanece, nada se repete, como se “monotonia” fosse uma palavra banida do léxico dos nossos corpos. Não quero que este cigarro se extinga, não quero que deixe de arder.

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publicado por bolaseletras às 17:37

Um gole para a vida

Sexta-feira, 13.01.12

 

 

Lembro-me de jogos de futebol em que havia quem fizesse uma pausa para beber uma imperial. Havia também colegas que partilhavam as dores dos cimentos dos Olivais Sul que não abdicavam de um shot de whisky antes dos desafios de vida ou de morte. E no fim dos jogos não eram poucos os que acendiam o cigarro mal o apito soava. As jantaradas homéricas após hora e meia de correria e de um ou outro golo de antologia eram mais que o próprio jogo em si. Para amadores como eu o futebol sempre foi uma forma de convívio puro e selvagem. Puro porque não estávamos com merdas com os amigos, quer fossem colegas de equipa ou adversários, selvagem porque o mais instintivo/violento de nós era ali que brotava descontrolado. Uma imperial gelada no fim de uma vitória suada no pico do Verão era mais do que uma imperial. Era um momento único na existência.

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publicado por bolaseletras às 21:54

The essentials

Terça-feira, 23.08.11

 

"The essentials", uma fotografia de Kenji Onglao

 

O auto-conhecimento assume-se crescentemente, nos dias que correm, como uma ciência em desuso e praticamente oculta. Diria que hoje em dia um tipo conhece-se pelos objectos que são para si essenciais, aqueles que o fazem parar antes de sair de casa, levar a mão aos bolsos e confirmar se o acompanham nesse abandono perante o mundo cruel. O maço de cigarros representativo da sua temeridade e desapegada imprudência que aos olhos de gente bem menos romântica poderiam significar uma assunção de perfeita estupidez, a menos que o portador dos pregos para o caixão seja um resoluto e lento suicida. Os óculos escuros que o protegerão desse astro maldito que lhe revela as olheiras doentias, os dentes amarelados, a pele seca e condenada. Os trocos para um punhado de cervejas que lhe permitirão aguentar até à noite. O telemóvel para o manter ligado a um mundo que cada vez mais fala sem se ver, sem se olhar nos olhos. Pensando melhor, colocar o auto-conhecimento num cofre e lançar a chave ao mar pode bem ser o mais aconselhável.

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publicado por bolaseletras às 18:27





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