Bolas e Letras
Era para ser sobre futebol e livros. Mas há tanto mundo mais, a mente humana dispersa-se perdidamente, o país tem tanto sobre que perorar, eu perco-me de amores bem para lá da bola e das letras: Evas, vinho, amor, amigos, cinema, viagens, eu sei lá!
See Naples and die
Nápoles. Máfia, Maradona, crime, um estranho fascínio pelo lado negro da natureza humana. Sei que não morrerei sem visitar aquelas ruas míticas onde se adorou sem limite o maior dos maiores, Diego Armando Maradona. Mas Nápoles será muito mais do que essa louca paixão, vejo-o nos olhos dos personagens reais, de carne e osso, com cheiro intenso a gente que ilustra este post. O fotógrafo Sam Gregg alimenta-me o fascínio com esta coletânea de fotos intitulada “See Naples and Die” (https://www.lensculture.com/articles/sam-gregg-see-naples-and-die). O feio pode ser contraditoriamente belo, o medo uma irresistível fonte de atração, a violência mais não ser do que uma desajeitada e fogosa forma de amar. Um dia perder-me-ei nas tuas ruas, é só o que sei.
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A beleza oculta - Brooklyn, Nova Iorque
"I'm from Brooklyn. In Brooklyn, if you say, “I'm dangerous”, you'd better be dangerous."
Larry King
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Calma - não dar o corpo pela alma
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A história de (des)amor de Bruno
Bruno amava tanto a namorada que, quando esta lhe comunicou que não dava mais, que já não o amava, que era o fim da sua relação, ele decidiu que se ela não era para ele também não era para mais ninguém. É esta a trágica história de muitas relações que sucumbem ao ódio e não sobrevivem ao amor, é esta a semente do mal de muitas histórias de violência doméstica que terminam em tragédia. Se nada fizermos a mulher amada por tantos milhões morre, o nosso Sporting esfuma-se nas mãos deste psicopata agarrado ao poder, a um salário, a uma fantasia infantil e alucinada que construiu no seu espírito. Vejam lá isso.
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O que realmente importa
Não foi fácil explicar aos meus filhos as feridas na cabeça do seu herói, do nosso Bas Dost. Desde muito cedo este clube faz sofrer os que o amam. Não sei se por alguma idiossincrasia misteriosa, este é um clube que leva o amor dos seus tão perto da fronteira do sofrimento. Os meus filhos ficaram tristes mas perceberam quando lhes expliquei que isto é tudo o que o desporto não deve ser, que o mais importante é competir com desportivismo, dar sempre o nosso melhor, mas sem ser com o único objetivo de ganhar. Só um ganha, os outros perdem e devem com isso aprender mais do que os que ganham, é esse um dos ensinamentos basilares do espírito desportivo. Com isto dito, quero reafirmar o que há muito venho dizendo: Bruno de Carvalho está a mais, não serve, é nocivo para o Sporting e para o desporto, como o são a triste maioria dos dirigentes do nosso futebol. Infelizmente, o grau de loucura deste homem conduziu-nos a caminhos nunca vistos.
Domingo, no Jamor, temos que mostrar aos nossos jogadores que estamos com eles, que os acarinhamos, que temos vergonha deste acto bárbaro. Ao mesmo tempo, pacificamente, todos os adeptos leoninos que realmente amam o Sporting têm que pedir a plenos pulmões a saída deste triste presidente. A vitória? É o que menos importa. É o Sporting que está em causa e isso é tão mais importante que uma mão cheia de vitórias.
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Quem guarda os nossos guardas?
Os 18 (18!!!) agentes de uma esquadra da PSP de Alfragide, todos os agentes dessa esquadra (todos!!!) foram acusados pelo Ministério Público, entre outros crimes, pela prática de crimes de tortura e racismo contra alguns jovens de etnia africana. Independentemente da punição exemplar, disciplinar e criminal, que venha a ser aplicada a estes elementos - caso as acusações venham a provar-se em sede de julgamento, claro está - é preciso, por uma vez, irmos mais longe. Quem, como, com que critérios são recrutados os agentes de autoridade que confiamos defenderão as nossas vidas e bens e a segurança dos nossos filhos? Estes 18 agentes de autoridade (custa tanto escrever isto, considerar que esta gente é agente de alguma coisa, quanto mais de autoridade) são sujeitos a que provas que comprovem a sua honorabilidade, humanidade, educação, etc. e tal, para o exercício de uma das missões mais nobres do Estado? Ou importará apenas a sua destreza física e conhecimentos técnicos? Quem são os responsáveis máximos por validar os critérios e regras que regulam o recrutamento desta gente? Quem permitiu esta desbunda total? Por uma vez, foquemo-nos nas questões por trás das questões imediatas e retiremos consequências sérias de mais uma vergonha nacional. O que é demais é demais.
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Um abraço, Bruxelas
A dor e o medo que habitam o peito de todos os cidadãos europeus voltou. Estes sentimentos são também o reflexo da impotência europeia em saber adaptar-se a estes tempos de uma nova e renovada barbárie. Quando a reação a problemas globais que estão à vista de todos (terrorismo, refugiados, guerras que estão na origem dos dois primeiros) são discutidas e “decididas” pelos novos donos disto tudo (os euroburocratas encerrados nos seus luxuosos gabinetes) e não por aqueles que deveriam ser os decisores finais legitimados pelos votos diretos dos diferentes povos europeus, as decisões são demoradas, periclitantes, defensivas e cobardes. Enquanto não percebermos e não resolvermos o nó górdio da impotência a que as nações europeias se entregaram nos corredores labirínticos de Bruxelas não perceberemos nada. União Europeia sim, burrocracia europeia não.
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Laranja mecânica
Há filmes que nos acompanham a vida toda pois a cada esquina nos confrontamos com eles. De uma forma ou de outra recordo invariavelmente " A laranja mecânica" de Stanley Kubrick. Assistir à violência que grassa no mundo actual, sobretudo aquela para a qual não encontro sentido, raízes, um mínimo de justificação, transporta-me sempre à violência gratuita do bando de delinquentes liderados por Alex, agredindo com um sorriso nos lábios ao som de "I'm singing in the rain". O vento que sopra num deserto inóspito ou numa escarpa montanhosa tem uma razão científica, a violência pela violência oculta as suas razões nas profundezas negras desta triste condição que é a nossa, supostos humanos. Demorou anos, muitos, mas abro agora as páginas da obra de Anthony Burgess que deu origem ao filme. Em busca das raízes do mal, de algo que me explique os porquês de Alex e deste mundo cada vez mais incompreensível. Vou dando notícias, que isto é uma história com pano para mangas. Poderei não trazer respostas, mas espero divertir-me enquanto garimpo os túneis da nossa vergonha.
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American sniper
American sniper de Clint Eastwood tem tudo para ser um clássico cliché dos filmes americanos de guerra e não deixa de o ser, porque tudo o que é tratado e repetido até à exaustão o é, porque a vida e a arte que a imita mais não é que um saco cheio de clichés amontados. O cliché é o horror da guerra, o impacto que isso tem para as famílias dos que vão atuar nesse teatro de morte, o trauma pós-guerra desses atores e novamente o impacto que tem nas famílias essa destruída/destrutiva nova pessoa que encarnou num novo espírito, a mais perfeita transformação de um actor. O filme tem tudo isso, mas Clint Eastwood teve o génio de tornar a glorificação de um soldado americano que se tornou um mito na guerra do Iraque em algo mais. Bradley Cooper regressa a casa, para os filhos e a mulher que indubitavelmente ama, mas nunca regressa de facto, o que faz com que por quatro vezes regresse ao Iraque. The legend, como lhe chamam, aquele que matou dezenas de iraquianos para proteger os seus compatriotas, sentia que, como um Deus, podia evitar as mortes dos seus irmãos de armas e de sangue. Amava a família mas sentia que algo maior lhe estava destinado, que regressar à América era abandonar à sua sorte aqueles que tinha o dom de poder salvar. Geralmente o cliché aponta para a dor por estar longe de casa, o sofrimento dos soldados, o regresso ansiado e manchado pelos infinitos traumas da guerra. Eastwood deu esta volta ao enredo e saiu-se bem. Bradley Cooper só redescobre a paz quando, de regresso a solo americano, consegue ajudar veteranos de guerra a atenuarem as suas dores. Antes disso, era como um médico que negligencia a família porque sente que a sua missão é salvar muitas outras, como um cineasta que aos oitenta anos, depois de produzir dezenas de filmes ainda sente que pode mudar a perceção do mundo, aperfeiçoar a arte mais e mais. Como um D. Juan que ama a sua mulher mas que sente que pode dar felicidade a tantas mais mulheres. Nada é preto, nada é branco, o que a milhares de olhos é errado pode criar tanto bem a milhares de outros. Não há mal e bem absolutos, tudo é relativo, tudo depende da perspectiva de quem perde o bem ou de quem dele usufrui.
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Por aqui também somos Charlie
Mais uma homenagem e uma manifestação de repulsa pelo assassinato dos jornalistas, civis e polícias na tragédia Charlie Hebdo, apesar de chover no molhado nunca é demais. Estes momentos têm pelo menos o condão de nos fazer pensar no valor da vida e no horror da violência e dos fundamentalismos, quaisquer que sejam as suas raízes. Em suma, é nos funerais que tantas vezes encontramos em nós aquilo que de mais humano temos, a compaixão pelos outros e o amor pela vida humana. Dito isto, gostaria ainda de dizer que antes de se fazer deste infeliz episódio a semente que nos lance numa guerra de religiões ou de civilizações, devemos todos estar conscientes que doidos varridos habilitados a causar desgraças quando na posse de uma arma sempre existiram, sempre existirão e, infelizmente, nunca conseguiremos extinguir da face da terra. Mais depressa se acabam os linces da Malcata do que estes animais.